quinta-feira, 28 de maio de 2009

OLHOS DE MANGÁ

Um amigo indicou um vídeo bem legal sobre desenho de mangá. É o Hundred ways to draw manga eyes, ou "100 maneiras de desenhar olhos de mangá", do desenhista Mark Crilley. São exemplos de técnicas, estilos e expressões baseadas em diferentes autores. Tem 10 minutos de duração e é bem interessante.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Dica


HQ & Cia - programa de entrevistas na alltv.com.br, também disponível em www.hqcia.com.br

Muitos profissionais contando dos projetos e carreira, inclusive alguns professores do projeto Fanzines nas Zonas de Sampa - como o Weberson Santiago, Jozz e Edu Mendes (na segunda metade do programa sobre a Garagem Hermética).

abs!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

ANSIEDADE ARTÍSTICA

Em todos os cursos e oficinas de desenho, mangá ou quadrinhos com os quais trabalhei até hoje, vejo um mesmo erro se repetir infinitamente: a pressa no resultado final.

Desenhistas profissionais fazem esboços preliminares até chegar a um que agrade. Depois, trabalham melhor o desenho até uma forma mais refinada. Somente então entra a finalização, que pode ser feita com canetas, pincéis, bico-de-pena, ou até canetas de mesas digitalizadoras. Finalmente, as marcas do esboço são apagadas e o desenho pode ir para uma etapa seguinte de colorização, aplicação de efeitos, letras ou diagramação. Mas o iniciante quase sempre quer que seu desenho à lápis seja feito de traço único, imitando a linha precisa de uma caneta, sem qualquer esboço previo.

Quer copiar em meia hora o que um profissional levou horas elaborando. Ou quer que sua criação tenha o mesmo nível de acabamento. E muitas vezes, ele enxerga assim. E custa a aceitar que o esboço é uma etapa quase inevitável para desenvolver melhor seu trabalho.

Normalmente, uso metáforas pra explicar por quê não adianta ter pressa. Pra quem gosta de esporte, pergunto se é possível um aluno de karatê querer quebrar 10 tijolos com a mão na primeira ou segunda aula. Ou se alguém que está aprendendo a nadar pode, antes de aprender a dar braçadas fortes na piscina, dar um salto ornamental do trampolim olímpico. Se o aluno estuda ou estudou música (como guitarra ou violão), pergunto se apenas com algumas poucas aulas é possível tocar como o Eric Clapton. Todos entendem esses exemplos, mas enxergam o desenho de forma diferente. "Ah, eu desenho assim porque é o meu jeito, o meu estilo." - pensam muitos, fechando as portas da mente para um aprendizado mais consistente.

A maioria dos alunos tem preguiça de pensar, querendo resolver a ideia logo no primeiro esboço. E depois querem finalizar o desenho de cara, ansiosos por ver logo o resultado. O desenho não vai melhorar enquanto o senso de observação não ficar mais aguçado e o aluno ficar mais exigente com o resultado. Mas isso só quem adquire alguma humildade e tem força de vontade vai entender e assimilar.

Lutar contra a própria ansiedade é algo que muitas vezes separa o artista promissor daquele que vai parar no tempo. E é dever de cada professor fazer o aluno entender que o desenho exige disciplina e humildade para realmente progredir. Como tudo na vida.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

OS QUADRINHOS E O PRECONCEITO DA SOCIEDADE

Ontem, o governador de SP, José Serra, (PSDB) declarou que o álbum de HQ "Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol" (Ed. Via Lettera) é de "muito mau gosto" por conter palavrões e temas sexuais. A notícia repercutiu e foi tema ontem na TV Globo, na Folha de São Paulo, na rádio CBN e em quase toda a mídia. A HQ foi comprada pelo governo para ser distribuída a alunos da terceira série do ensino fundamental, com 8 anos em média.

Tudo foi um enorme mal-entendido e fruto de total desconhecimento sobre o que foi comprado. O trabalho, de qualidade e cheio de méritos artísticos, NÃO foi feito para crianças. É aquele velho problema com o qual os profissionais e leitores de longa data sempre se deparam: a maioria da sociedade sempre vai achar que HQ é coisa pra criança. Aí, alguém que gosta de HQ lá no governo indica a compra de alguns títulos pra distribuição em escolas e bibliotecas infanto-juvenis, mas não checa direito o conteúdo.

Do outro lado, quem vende deveria ser informado qual o público-alvo que vai receber o material. Ora, se fosse para alunos do colegial, problema nenhum haveria. Só fazendo um paralelo com outras mídias que não sofrem de preconceito, imaginem se o governo comprasse o filme Carandiru e distribuísse a crianças de 7 anos. Não preciso falar mais nada, não é?

Acho que os profissionais de HQ vão passar o resto da vida (e as gerações seguintes) eternamente tendo que explicar aos não-iniciados algo que é óbvio no Japão, EUA, França, Inglaterra, Portugal, Argentina e demais países cujo povo lê muito: Histórias em quadrinhos não são leitura somente para crianças. Existem quadrinhos de todo tipo e para todo tipo de público, assim como o cinema, teatro, música e qualquer outra mídia.


Finalizando, a ACB - Associação de Cartunistas do Brasil publicou ainda ontem uma nota falando sobre o caso, nota esta que reproduzo abaixo:

ASSOCIAÇÃO DOS CARTUNISTAS DO BRASIL – ACB

Rua Lourenço Rodrigues Souza, 174 – São paulo/SP – CEP 02760-050 – Tel 011 3851 5221

www.hqmix.com.brhqmix@hqmix.com.br

Sobre reportagens a respeito do livro “Dez na área, um na banheira e nenhum no gol” da Editora Via Lettera.

Hoje, dia 19 de maio, na mídia, houve a repercussão de uma matéria sobre o mau uso do livro de quadrinhos acima citado onde vários autores importantes da área desenharam sobre o tema futebol.

O livro, premiado e trazendo desenhistas também premiados, inclusive fora do Brasil, foi mostrado como material de linguagem chula e arte sexista imprópria para distribuição para crianças da rede pública de ensino como material paradidático.

A Associação dos Cartunistas do Brasil, que vem participando por anos da luta pelo reconhecimento do autor brasileiro na área dos quadrinhos e humor gráfico, não pode deixar de dizer que as informações colocadas, dessa forma na mídia, podem depor contra um trabalho sério nas escolas de utilização de publicações de quadrinhos como ferramenta de incentivo à leitura e cultura nacional.

Fica evidente que houve um descuido de quem escolheu esse título para distribuição para o ensino básico, mas não se pode dizer que os artistas estão deturpando algo como fica a impressão das matérias. Uma criança de 9 anos assiste ao futebol com o pai, que não deve economizar em seu linguajar diante da emoção que o esporte exerce sobre seus torcedores. As transmissões de futebol não conseguem evitar o som dos palavrões cantarolados pelas torcidas. Portanto não é criação dos desenhistas a linguagem chula, mas simplesmente estão colocando o que todos vêem num jogo de futebol pelas transmissões livres de censura.

Ao mesmo tempo, a forma como são colocadas as mulheres no futebol com as “Maria Chuteira” ou “travestis” que se relacionam com jogadores, nas reportagens, que não são também censuradas, só podem ter um reflexo nas histórias dos autores do livro.

O que vemos é uma crucificação de um trabalho sério de artistas e da editora, muito bem conceituados e que podem ser sim distribuídos em universidades para o estudo do mundo do futebol e sua influência na cultura popular.

A utilização dos quadrinhos na sala de aula é confirmada por educadores como fonte importante para agregar valor de conteúdo educacional para o interesse da criança em várias matérias do currículo escolar. Isso foi conquistado depois de muita luta contra o preconceito que antes havia e que caiu por terra ao vermos em cada lar uma criança de cinco anos já se interessar por leitura quando vê revistas infantis na sua frente.

Apenas houve um equívoco na escolha pela faixa etária a que se destinava os livros e não uma publicação censurável como pode ter passado para o grande público.

Pedimos aos meios de comunicação que, sempre que houver algo tão importante como esse tema, também coloquem a opinião de uma pessoa especializada na área, que tenha algum conhecimento da linguagem em discussão.

José Alberto Lovetro (JAL)

Associação dos Cartunistas do Brasil - ACB