terça-feira, 25 de novembro de 2008

Fanzines continuam!

Blog do fanzine BU!zine dos alunos da Biblioteca Rubens Borba de Moraes:

Mangá


Aproveitando o assunto mangá das últimas postagens, gostaria de apresentar uns estudos de um aluno fissurado neste tema, que participou da oficina da biblioteca Paulo Duarte.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A NARRATIVA DO MANGÁ

Em 2000, publiquei pela Editora Canaã uma revista chamada Como desenvolver roteiro para mangá. Era o número 13 da coleção Curso Básico de Mangá, que fez algum sucesso em bancas. Em 32 páginas, eu dava dicas de produção de roteiro, tendo em mente algumas características da narrativa do mangá. O texto introdutório, um resumo sobre o que eu acho que define uma HQ como sendo mangá, acabou incluído em minha coletânea, o Almanaque da Cultura Pop Japonesa.

O assunto sempre vem à tona, seja em palestras ou oficinas. A maioria das pessoas tem uma visão equivocada sobre o mangá e sempre respondo sobre isso em cursos, oficinas e palestras. Por isso, resolvi republicar o texto aqui, esperando que seja uma referência útil aos leitores deste blog.

A NARRATIVA DO MANGÁ
O JEITO JAPONÊS DE CONTAR HISTÓRIAS


As pessoas costumam associar o mangá (quadrinho japonês) a figuras de olhos grandes, cabelos espetados e coloridos, robôs, samurais e monstros. Tudo isso realmente faz parte do universo do mangá, mas não é o que melhor traduz o que é o mangá. O que mencionei agora tem a ver com uma escola de artes gráficas, inserida no gosto médio da maior parte do povo que consome e faz mangá. São estereótipos visuais, padrões estéticos, nada mais que isso. Mas o que muita gente deixa escapar ao folhear um gibi japonês é uma coisa sutil, que foi arduamente pesquisada pelo pioneiro do moderno mangá Osamu Tezuka e foi aperfeiçoada ao longo dos anos por talentosos artistas.

Trata-se da narrativa, aquilo que liga um quadrinho ao outro e dá ao leitor o entendimento da história no ritmo e no tempo pretendido pelo autor. É algo que somente quem se preocupa em contar uma história e não em exibir ilustrações percebe e sabe usar. A grande maioria dos artistas de fora do Japão (como brasileiros e americanos) que diz fazer mangá ou seguir suas influências, o faz sem a noção da tal narrativa de mangá. Geralmente, fazem suas histórias motivados pela admiração a animes (os desenhos animados), sem nunca terem sido leitores assíduos de quadrinhos em geral. Usam visuais característicos (olhos grandes e cabelos espetados) e símbolos gráficos igualmente característicos, como as dinâmicas linhas de ação desenhadas atrás de um personagem em movimento. Nada disso é mangá. Ou melhor: apenas isso não é mangá.

As diferenças são muitas, a começar por como a história é apresentada pelo autor a seus leitores.

Na escola narrativa dos quadrinhos japoneses, o narrador é pouco usado, sendo a narrativa mais visual do que no ocidente. Os diálogos são mais diretos e o ritmo flui de maneira mais suave. É uma abordagem mais cinematográfica e geralmente faz as situações se desenvolverem mais lentamente que nos quadrinhos ocidentais. Vale lembrar que no Japão são comuns as histórias com cerca de vinte páginas publicadas em grandes almanaques semanais, o que dá um bom espaço para ser explorado. Já no ocidente, episódios mensais são a regra geral. Com menos espaço, a narrativa ocidental tende a ser mais objetiva e direta que no oriente. Disso também depende a visão pessoal do autor, seus objetivos e gostos pessoais para que ele decida como aproveitar da melhor maneira a limitação quanto ao número de páginas.

Em outro exemplo da forma narrativa do mangá, uma cena de nascer do sol abrindo uma página, quando a anterior mostrava noite, pode dar facilmente ao leitor a idéia de que nasceu outro dia, sem a necessidade de se escrever o recordatório "No dia seguinte..." . Outro exemplo, agora com mudança de cenário, é abrir a página com um quadro que mostra por fora o ambiente aonde a ação seguinte irá se passar. Isso já basta para situar o leitor no novo cenário. Tal recurso de transição de tempo e espaço mostrada apenas visualmente é uma das grandes características do mangá. Sua origem é a linguagem cinematográfica. O formato e quantidade de quadrinhos numa página influem na percepção de tempo que o leitor tem. Por exemplo: uma cena pode ficar "congelada" por vários instantes se ela for mostrada em vários quadros, sendo que cada um mostra um plano de detalhe da cena e sem que haja movimentação.

Para cenas de combate, o mangá explora vigorosamente a variação de ângulos, bem como o formato dos quadrinhos. Existem momentos em que o ângulo de cena é simples e o desenho transmite tranquilidade. Em outros, o leitor sente suspense e expectativa, para em outros ainda, delirar com situações movimentadas e dinâmicas. Se um autor consegue lidar bem com o tempo, pode prender mais o leitor, que se divertirá tanto com o conteúdo como com a forma com que a história é contada. Tais sutilezas passam longe da maioria dos autores americanos, especialmente os adeptos da linha de desenhos de impacto da Marvel ou da Image Comics.

A narrativa de mangá, chamada assim para simplificar, é um conjunto de técnicas que visa um único objetivo: contar bem uma história.


- Texto publicado originalmente na revista especial Como Desenvolver Roteiro Para Mangá (Ed. Canaã, 2000) e republicado no Almanaque da Cultura Pop Japonesa (Ed. Via Lettera, 2007).

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Prêmio Escola



Encontrado no Gibizada


Uma aluna de Escola Pública do Rio de Janeiro se torna finalista do concurso Prêmio Escola da Unesco direcionado aos alunos de todo o país, que seleciona as melhores Histórias em Quadrinhos que trabalhem com um tema determinado pelo Prêmio.

Você que é aluno do ensino fundamental ou médio, fique atento para concorrer no ano que vem.

Mais informações sobre a notícia aqui e sobre o prêmio aqui.

Um Problema Sério

Em cursos e oficinas de HQ ou mangá com duração maior que um mês, costumo dedicar um tempo para o estudo de técnicas de roteiro. Como eu sempre digo, não dá pra ensinar a ter idéias novas ou inovadoras, mas sim as melhores maneiras de se contar uma história. No entanto, é comum que se esbarre em um problema grande logo no começo: muitos alunos não sabem como começar. Alguns reclamam que não conseguem pensar em nada, em ter idéia alguma.

Aí, forçando, aparecem histórias do tipo: Herói diz que é forte e o vilão diz que vai acabar com ele. O herói dá um golpe mortal e comemora vitória. Meu Deus!!! E vi isso dezenas de vezes. A história se limita a duas pessoas trocando golpes. Nem um video game antigo consegue ser tão raso.
Essa pobreza de idéias tem uma origem básica: Os alunos não lêem quase nada. E o que lêem, não foram ensinados a interpretar.

Na internet, passam o olho correndo em notícias curtas. Ao escreverem, usam abreviações e gírias estúpidas repetidas vezes e nunca aprendem a desenvolver uma argumentação coerente em texto corrido. Cometem erros de português inacreditáveis e às vezes confundem letras maiúsculas com minúsculas, sem saber quando se usa uma ou outra. Claro que esse é um problema de toda a sociedade, não apenas de alguns adolescentes.

A origem dessa falta de idéias e incapacidade de se expressar de modo claro usando palavras corretamente é uma só: falta de leitura. Tem que ler livro, jornal, revista informativa, quadrinhos. Jogar menos, perder menos tempo com MSN, Orkut, fórum... Ter mais cultura geral, não se limitar aos pobres currículos escolares... Ter mais interesse em informação, não ficar só no "ouvi falar". Faltar cultura - e pior, faltar interesse em ter cultura - é a pior coisa a se perceber em alguém que deveria estar aprendendo tanta coisa.

Por isso, para quem deseja trabalhar com quadrinhos, ilustração, texto, comunicação ou arte (ou qualquer coisa que seja), meu conselho é um só:

LEIA MUITO!!!

Gêneros e Preconceitos nos Quadrinhos

Uma discussão muito recorrente relacionada a quadrinhos é se a mídia HQ deve ser considerada arte ou cultura. Obviamente quadrinhos são uma manifestação cultural e artística e os argumentos para comprovar isso vêm de gente muito mais gabaritada e vivida do que eu. Profissionais, amadores, leitores e pesquisadores sempre reclamam do preconceito que muita gente tem contra as HQs. Preconceito que vem, como sempre, da ignorância e desconhecimento.

Mas tenho notado também que mesmo entre os iniciados e até entre profissionais do traço e organizadores de eventos de HQ, existem alguns preconceitos que perduram.

Muitos garotos fãs de mangá debocham de quadrinhos de super-heróis apontando que o Superman "usa cueca por cima da calça". Uma observação fora de contexto que só pode partir de quem nunca leu clássicos como Para o homem que tem tudo e O que aconteceu com o Homem de Aço?, ambas escritas pelo cultuado roteirista de Watchmen, o inglês Alan Moore. Também já vi muitos fãs de animês debocharem de fãs de tokusatsu (os filmes e seriados de efeitos especiais), apontando que são todos filmes mal-feitos e direcionados somente para crianças.
Entre autores de quadrinhos independentes e charges, já vi também muita gente desprezar super-heróis e agora, a bola da vez, o mangá.

Muitos torcem o nariz pra mangá porque "tem que ler de trás pra frente" ou que "só tem violência e sexo". Ora bolas, isso parece papo de velho incapaz de se adaptar ou de aprender algo novo e de gente que viu superficialmente meia dúzia de trabalhos e saiu julgando. Há muitos temas e abordagens no mercado de mangás, com muito mais diversidade de temas do que em qualquer outro mercado. Sobre a ordem de leitura, o idioma japonês é feito para leitura da direita para a esquerda. Seguir balões e quadrinhos nessa seqüência exige um esforço de aprendizado infinitamente menor do que aprender uma outra língua. Mas os preguiçosos de plantão colocam isso como empecilho para novas experiências de leitura em seu próprio idioma.

Essa característica de leitura inversa ao modo ocidental, infelizmente, também confunde a cabeça de muita gente que gosta de mangá. É comum que adolescentes, crianças - e até adultos desinformados - digam que mangá é "gibi que a gente lê de trás pra frente" tanto quanto dizem que "mangá é desenho de olho grande". O que não sabem é que muitos mangás já foram editados com a ordem de leitura ocidental - num processo de remontagem ou inversão das páginas. Esse processo não transforma mangás em outro tipo de quadrinho. E nem todo mangá tem o olhão brilhante e expressivo dos mangás feitos ou influenciados pelo lendário Osamu Tezuka.

Muitos críticos de mangás também repudiam a HQ japonesa por dizer que os desenhos são "todos iguais". Uma olhada no quadro acima mostra algumas variações possíveis dentro do mangá. E sobre temáticas, basta comparar Lobo Solitário, Video Girl Ai e Gon para saber que reunir todos os mangás numa mesma abordagem é algo equivocado. Outros dizem que não têm paciência pras intermináveis lutas de mangás ou animês de combate. E ignoram obras-primas como o manifesto pacifista que é Gen - Pés Descalços ou o suave romantismo e drama de Onegai Teacher. Citei dois exemplos bem diferentes, mas o mangá possui uma diversidade de temas e abordagens tão grande que eu costumo dizer que as pessoas que dizem que não gostam de mangá o fazem porque ainda não acharam um tema que lhes interesse.

Do outro lado, os fãs de mangá que ridicularizam HQs de super-heróis como se fossem todas iguais deveriam deixar um pouco de lado o preconceito que tanto reclamam sofrer e experimentassem obras como o já citado Watchmen, Cavaleiro das Trevas ou tentassem ler outros tipos de HQs feitas nos EUA, como Bone, Estranhos no Paraíso, Concreto, Love and Rockets ou algum outro que saia do tema super-heróis. E nem estou falando do quadrinho nacional, europeu ou mesmo da HQ hindu. As opções são muitas de ambos os lados, mas falta boa vontade em muita gente para conhecer o misterioso gosto de quem vive fora do seu mundinho. Fechar a mente num gênero só e desmerecer o gosto alheio é, infelizmente, algo comum em qualquer meio. Mas não deveria ser em um meio - a HQ, mangá e afins - que luta para se afirmar como arte e cultura perante a sociedade.

Não ajuda em nada quando pessoas que circulam em nichos de mercado ficam criando mais preconceitos ainda dentro dessa área tão complicada que é o mercado das histórias em quadrinhos. Preconceito não deixa de ser uma atitude imatura. E HQ não é, como os aficionados sempre repetem, uma leitura meramente infantil.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Comunidade Orkut

E desde hoje temos uma comunidade no Orkut para quem participou dos cursos: 

HQ storyboard


Uma outra possibilidade para HQs é fazendo storyboards, seja para imprensa, publicidade ou cinema, sobre fatos ocorridos ou narrativas a serem filmadas.
Aqui como exemplo está o passo-a-passo de uma HQ que fiz na semana passada para a Veja, sobre o assassinato da Eloá.
Clique na imagem para aumentar.

Abs,
Sam